terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Garotas, nós temos que nos preservar

                Garotas, nós temos que nos preservar.Saliento a ironia expressa neste primeiro período, pois nos preservamos desde que o mundo é mundo. Quando fechamos as pernas ao sentar, quando fazemos os panos de elástico de tanto que os esticamos, quando aos onze anos trocamos os shorts para poder comprar pão na padaria da esquina e vestimos sutiãs com bojo para que não comentem nossos faróis acesos.
                Temos vergonha porque aprendemos a ter vergonha. Enquanto eles são incentivados de todos os modos, somos convidadas a nos preservar. Tudo é nojento. É tabu. Devemos seguir manuais de boa conduta: “Seja sexy, sem ser vulgar”. Não falamos putaria porque somos meigas e singelas, ou pelo menos devemos ser.
                A preservação é uma desculpa.  Não existe preservação, mas cerceamento, pois se elas não se preservam pode-se atacá-las sem peso.Na verdade, abdicamos de nossa liberdade em prol da manutenção de algo que é nosso por direito: a integridade de nosso corpo. A "preservação" seria desnecessária numa sociedade igualitária.
                Não somos humanas, sequer bichos cheios de libido, somos coisas. E se nos romances de José de Alencar ficávamos expostas na janela sujeitas a escolha dos bons partidos (aqueles que pagassem mais) ainda estamos nas vitrines vendendo nosso corpo mesmo longe de Amsterdã. Ainda fazemos sexo sem querer, ainda deixamos de fazer quando queremos. Ainda hoje somos bichos teletransportados de realidades paralelas se não parimos nem casamos, ainda ficamos para titia, não sabemos dirigir, ainda somos burras se bonitas.
                Enquanto criticamos a postura claramente ofensiva da obrigatoriedade de burcas muçulmanas estipulamos um mínimo aceitável para o comprimento de saias ocidentais, ambas para evitar a violência. Que diferença há? Se lá ou aqui não podemos sair desacompanhadas sem ouvir no mínimo uma “gracinha”?
                Recentemente li “O dia em que tive medo de ser mulher”, mas aprendemos a ter medo desde que nos descobrimos femininas, vemos o medo nos olhos de nossas mães, ouvimos confissões de nossas amigas e nos calamos. Quando não tivermos mais medo, não precisaremos nos preservar. Até lá: “qual o tamanho de sua burca?”

5 comentários:

  1. Excelente texto, BB.
    Eu ia fazer um puta comentário, complementando suas ideias (sem distocê-las, é claro), mas to cansado pra cacete de tanto estudar e mal consigo pensar.. rsrs.
    Ainda assim, excelente texto MESMO. Está escrevendo cada vez melhor, com maior impacto e defendendo mais argumentativamente sua posição. Se não trocar Direito pelas Artes, troque por Comunicação.. rsrs.

    Beijão.

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  2. Gostei muito desse texto. Não é fácil ser mulher, porque a sociedade delimita os papéis que devemos seguir. Por exemplo: enquanto as mulheres são educadas a viver a maternidade, os homens nunca deixam de ser apenas filhos. Abraços.

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  3. Parabéns, Bruna.
    Concordo com suas palavras...
    E o primeiro passo para tudo isso eh a nossa própria libertação, o primeiro passo é nosso.

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  4. Belíssimo texto, a mulher precisa ser valorizada e encarada não como sexo frágil que é uma mentira deslavada, mas encarada com respeito. Sigo seu belo blog via google.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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